Saúde Digital e Informática em Saúde – Um domínio que faz toda a diferença
por Jussara Rötzsch
Consultora de Informática Clínica e Saúde Digital no Hospital Sírio Libanês e responsável pelo GI de Semântica da SBIS
Vivemos em um mundo onde a tecnologia transforma rapidamente a forma como lidamos com praticamente tudo – e a saúde não poderia ficar de fora. Quando pensamos em saúde digital, imaginamos ferramentas que melhoram o atendimento ao paciente, como telemedicina, registros eletrônicos e até aplicativos no celular que nos ajudam a cuidar da saúde. Porém, por trás de toda essa transformação, existe algo ainda mais fundamental: a informática em saúde.
O que muitas vezes passa despercebido é que a informática em saúde não é apenas uma parte da saúde coletiva, ou um braço da comunicação em saúde. É muito mais do que isso. É um campo próprio, um domínio independente que une tecnologia, ciência e gestão para melhorar a forma como cuidamos de cada pessoa, garantindo segurança, eficiência e resultados melhores.
Quando pensamos em como a tecnologia já impacta a saúde, percebemos mudanças incríveis. Hoje, é possível realizar consultas sem sair de casa, acessar históricos médicos em poucos segundos e monitorar condições de saúde em tempo real com dispositivos vestíveis. Esses avanços não são apenas convenientes; eles salvam vidas, otimizam recursos e reduzem erros médicos.
No entanto, isso só é possível graças a sistemas altamente especializados que organizam, analisam e integram dados de saúde. Esses sistemas não são simples extensões de outras áreas da saúde. Eles representam a base tecnológica que sustenta toda a transformação digital no cuidado médico.
A informática em saúde é o “motor” que faz a saúde digital funcionar. Diferentemente da saúde coletiva, que foca em estratégias de prevenção e promoção para populações, a informática em saúde vai além: ela constrói ferramentas que impactam diretamente o cuidado no dia a dia, ajudando médicos e pacientes a tomar decisões mais rápidas e precisas.
Por exemplo, enquanto a saúde coletiva pode investigar como uma doença afeta um bairro, a informática em saúde cria o sistema que permite ao médico daquele bairro acessar em tempo real o histórico completo do paciente, cruzar dados, analisar exames e prescrever um tratamento personalizado – tudo isso com segurança e privacidade.
Essa autonomia faz da informática em saúde um campo essencial, com metodologias e objetivos próprios. Confundir essa área com outras disciplinas não apenas reduz seu potencial, mas também prejudica o avanço das tecnologias que dependem dela.
Nada disso acontece sozinho. As ferramentas são importantes, mas o que realmente faz a diferença é como os profissionais de saúde usam essas tecnologias. E, para isso, é preciso capacitação.
Instituições como a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) e a American Medical Informatics Association (AMIA) têm liderado o desenvolvimento de competências essenciais para os profissionais dessa área. E não é só sobre saber usar computadores. É sobre dominar:
– Tecnologias da Informação, como registros eletrônicos e inteligência artificial.
– Gestão de Dados, garantindo que as informações dos pacientes sejam protegidas.
– Interoperabilidade, ou seja, fazer com que diferentes sistemas “conversem” de forma eficiente.
– Análise de Dados, transformando números em decisões que salvam vidas.
– Liderança, porque inovar exige coragem e visão de futuro.
– Capacitar pessoas significa preparar o sistema de saúde para enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais conectado e tecnológico.
Claro, essa revolução tecnológica não está livre de desafios. A desigualdade no acesso às ferramentas digitais, os altos custos e a preocupação com a privacidade dos dados ainda são barreiras que precisam ser superadas. Mas o potencial transformador da informática em saúde nos dá motivos mais do que suficientes para insistir.
Ao reconhecermos a informática em saúde como um campo independente e essencial, fortalecemos sua capacidade de trazer mudanças reais e duradouras para os pacientes e profissionais. Estamos falando de mais do que conveniência tecnológica – estamos falando de um cuidado médico mais seguro, eficiente e humano.
Conclusão
A saúde digital e a informática em saúde são mais do que tendências. São uma necessidade. Para garantir um futuro mais saudável, precisamos investir em tecnologias que colocam o paciente no centro do cuidado e em profissionais preparados para usar essas ferramentas ao máximo. Reconhecer a informática em saúde como um domínio independente é um passo fundamental para isso.
Se queremos um sistema de saúde que cuide melhor de cada pessoa, a hora de agir é agora. Vamos abraçar essa revolução e garantir que ela alcance todo o seu potencial – não apenas como uma extensão de outras áreas, mas como uma ciência em si, dedicada a transformar vidas.
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